Já te aconteceu teres de persistir em alguma coisa várias vezes até finalmente conseguires?
Claro que já!
A mim também e isso marcou o meu percurso.
Vou contar-vos porquê e como é que isso me fez chegar onde estou.

Esta partilha é especial porque é a primeira vez que conto por escrito a minha história.
Tudo começou porque há muito tempo atrás eu tinha um sonho!
Mas apareceram pela frente algumas peripécias.
Sou filha de desportistas. A minha família é muito dada ao desporto. Os meus pais sempre incutiram muito isso em mim e ao meu irmão.
Em miúdos experimentávamos imensas atividades, participávamos em todos os desportos da escola e andávamos sempre de um lado para o outro.
Até pode estar nos genes, como algumas pessoas pensam. Aqueles que acham que somos natos para a coisa. Mas foi realmente da educação que os nossos pais nos passaram.
Depois de experimentar tanta coisa, fui-me direcionando. E comecei a fazer aulas de dança com 9/10 anos. Iniciei pelo ballet clássico, contemporaneo e moderno.
Fiquei loucamente apaixonada!
Amor à primeira vista.
Algumas pessoas dizem que comecei tarde.
Aquelas que defende que começar a dançar é aos 5 anos.
Para mim não. Começa-se a dançar quando cada um quer. E nunca é tarde. Principalmente quando é para cumprir um sonho.
Foi na altura certa e suficiente para começar o meu percurso, neste caminho que eu considero, não só o profissional, mas também o pessoal.
Porque quem dança é muito mais feliz e na minha vida é muito difícil separa essas duas águas. Assim, a dança está na minha vida das duas maneiras.
A escola de dança onde andei era bastante conceituada e fazíamos muitos espetáculos e atuações com equipas estrangeiras, que vinham de propósito para nos ensaiar.
Nessa altura, eu super magricelas e trinca espinhas, estávamos com ensaios muitos intensivos. Era verão, eu não tinha aulas, portanto podíamos ter ensaios o dia todo.
Houve um determinado movimento que, de tanto insistir nele, acabei por me magoar e fui parar ao hospital.
Eu não me lembro da cara do médico, só me lembro da sensação quando ele me pergunta:
Tu queres ser bailarina?
E eu na minha inocência de criança, digo:
Sim!
O meu sonho era ser bailarina profissional.
Num tom totalmente militar, quase sem sentimentos responde-me que isso estava completamente fora de questão.
Lembro-me de olhar para cima, em estado choque e ficar sem palavras.
Fui a viagem de carro toda calada, sem saber o que dizer. O sonho tinha sido destruído.
Estavam a tirar-me o tapete!
Tudo aquilo que eu sonhava e que tinha trabalhado para ser, estava a ser-me retirado por uma questão de saúde. Algo que eu nem sequer controlava.
Acabei por abandonar o espetáculo…
O médico proibiu-me de continuar a dançar e os meus pais, com medo, nem insistiram.
Passado uns meses já nem ia às aulas de dança.
Foi um choque tremendo.
O médico disse que eu tinha de fazer alguma coisa para ajudar a fortalecer a musculatura das costas.
Na altura, eu tinha um clube de ginástica perto de casa. E a responsável era uma grande amiga de família. Fui-lhe pedir ajuda para me dar alguns exercícios para fortalecer as costas.
Durante, mais ou menos, um ano, enquanto as outras crianças faziam ginástica, eu ficava de lado a fazer os meus exercícios.
Aí sim, comecei a desenvolver muito a minha musculatura na tentativa de contornar a minha escoliose, que continua aqui, mas com muito menos dores e muito mais capaz de suportar certo tipo de movimentos.
Mas, imaginem o que é, passar um ano a olhar para uma modalidade e a divertirem-se com isso.
Ver os outros a fazer ginástica acrobática fez com que me apaixonasse por esse desporto.
Aos poucos comecei a fazer umas “coisinhas” de ginástica. Já não fazia desporto há imenso tempo. Senti que estava a “agarrar o touro pelos cornos”.
Tudo foi melhorando. Aprendi a cuidar melhor do meu corpo com aquela condição e acabei por levar o desporto mesmo a sério. Os treinos federados levaram-me a fazer algumas competições a nível nacional.
Então afinal, o médico diz-me que não posso ser bailarina porque a saúde não me permite e agora consigo fazer um desporto que é tão exigente a nível físico e contornar as minhas dores sem grandes problemas?!
Mas quer dizer… eu quero é dançar – pensei eu.
Nesta altura já eu estava no secundário a fazer o Curso Tecnologico de Desporto, quando comecei a trabalhar com a minha treinadora. Era boa no que fazia, tinha conhecimentos e ela precisava de ajuda. Nessa altura ela foi uma impulsionadora e deu-me bastante força para eu continuar a dançar.
Então voltei a ter aulas!
Voltei a dançar, voltei à minha rotina e a começar a perceber que podia mesmo voltar a Dançar.
E assim foi!
Aquela barreira que há uns anos me fez desistir do meu sonho, agora já não existia. Retomava então o meu caminho do mesmo ponto de ondo o tinha deixado.
Isto, enquanto terminava o secundário e se aproximava a grande decisão de escolher qual a área a seguir na faculdade. O dilema precoce pelo qual os adolescente têm de passar.
Estava indecisa se iria para uma área que, talvez, me pudesse dar uma segurança económica e que gostasse minimamente – Fisioterapia, ou se iria para a área que me apaixona, mas que me poderia trazer muitas lutas – Dança.
Sabia que o mundo artístico não é fácil. Mas os meus pais, mais uma vez, foram fundamentais e disseram:
Segue aquilo que tu sentes.
Segue aquilo que tu gostas.
Vai em frente, aquilo que for, será.
Comecei a ter a noção de que, se trabalhamos a vida toda, a dedicar o nosso tempo e esforço a algo, mais vale que seja a fazer aquilo que gostamos.
Decidi então tirar a licenciatura e Dança!
Tanto na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) como na Escola Superior de Dança (ESD) se pode tirar essa licenciatura. As duas escolas dão a preparação necessária, a diferença é que uma é mais direcionada para a performance artística – ESD, e a outra é mais vocacionada para o ensino – FMH.
Optei pela FMH e lá ia eu estudar dança.
Agora sim, começam as peripécias.
O curso de secundário de tirei, tinha algumas disciplinas, mas não todas.
Pois para entrar na faculdade era necessário o exame nacional de Biologia e Geologia. Uma disciplina que eu não tive.
Pensei que não havia problema, que com estudo chegava lá.
Exame Nacional 1ª fase
Exame Nacional 2ª fase
E então pensei:
Tudo bem! Falhas-te, nunca tinhas tido esta disciplina. Vamos lá tentar outra vez.
Durante um ano, estive inscrita como aluna externa para poder assistir às aulas dessa disciplina.
Passei um ano a estudar só uma disciplina, enquanto trabalhava em part-time. Nesse ano:
Exame Nacional 1ª fase – CHUMBEI
Exame Nacional 2ª fase – CHUMBEI
Já estava eu a desesperar. A achar que tinha estudado imenso para aquilo, que tinha estado presente nas aulas todas e que mesmo assim não tinha chegado. No meio disto já tinha passado nos exames físicos para entrar na faculdade. Ou seja, esses pré-requisitos necessários já estavam arquivados à espera que eu passa-se no exame teórico.
Cheia de positividade pensei:
Não vou desistir.
Já perdi este tempo todo a aplicar-me a isto, por isso vou em frente, porque é isto que eu quero.
Vais continuar e vais tentar as vezes que forem precisas.
Isto era o meu subconsciente a dizer para mim própria, mas todos os dias eu pensava:
Eu não posso fazer isto. Tenho de escolher outra coisa. – a desesperar.
Foi então que… decidiram abrir o exame de Inglês para acesso à Licenciatura de Dança.
Senti que se tinha aberto uma janela luminosa que me ia salvar daquele loop sem fim.
Para a terceira tentativa inscrevi-me nos dois exames.
Fiz os dois e não é que desta vez passei nos dois.
Dando agora uma grande reviravolta para terminar esta parte do percurso…
Tirar a licenciatura foi um abrir de horizontes. Porque eu tinha decidido para mim mesma que era aquilo que eu queria fazer e que tinha de ser algum trabalho relacionado com a dança. Mas o quê?
Uma pessoa pensa logo em professor de dança ou bailarino.
Mas existem muitas profissões ligadas à dança!
As disciplinas que eu fui tendo, as coisas que fui aprendendo, os relacionamentos que tive na faculdade, abriram-me imenso os horizontes em relação a isso.
Se eu tinha, inicialmente, uma ideia daquilo que eu queria ser, ao longo dos três anos de faculdade as ideias foram mudando bastante.
O meu cérebro expandiu- todo em relação a isso. Quem não estuda a matéria acha que é só uma coisa ou só a outra, mas existe um leque imenso de procissões ligadas à área artistica da dança.
Uma das vertentes que me fez pensar:
Epah! Eu vou investir nisto!
Foi a DANÇA CRIATIVA.
Na altura não conhecia muito bem o conceito. As aulas que eu dava eram de estilos específicos.
A Dança Criativa veio mostrar-me um lado diferente da dança.
Um lado menos técnico e um lado mais de desenvolvimento, exploração, auto-conhecimento. Tudo ligado ao movimento, tudo ligado à dança, mas sem as regras restritas das técnicas, como no contemporaneo ou nas danças de salão, por exemplo.
Foi muito bom desenvolver isso na faculdade.
Eu tenho muitas, muitas saudades desse tempo, do tempo que passei na faculdade.
Cresci imenso enquanto estive no ensino superior, aprendi muito.
Também tenho saudades de estudar. Pois quando terminamos o curso, começamos a trabalhar e entramos numa carruagem que nunca mais para.
E aquele foco que se tem na faculdade, ou as pestanas que temos de queimar, ou o deitar tarde à noite para entregar trabalhos no dia seguinte, etc, perde-se.
Claro que enquanto estamos na faculdade não queremos nada saber das saudade que iremos ter depois, queremos é acabar com aquilo e mandar tudo para trás das costas.
Mas hoje em dia, sim, tenho saudades dessas rotinas, desse estado mental em que as preocupações são diferentes.
Passado a licenciatura, mantinha-se esta vontade de continuar a estudar e fui fazer uma Pós-Graduação em Dança na Comunidade. Aí os projetos que tinha idealizado na licenciatura começaram a ganhar um bocadinho mais de raízes e sustentabilidade.
Quis muito desenvolver esta área da dança criativa e a dança relacionada com as crianças numa fase inicial, antes de poderem envergar por algum estilo que gostem. Aquelas crianças que começam a dançar.
A dançar o quê?
Não tem de ser necessariamente um estilo especifico, mas sim DANÇA CRITATIVA.
Comecei a desenvolver os meus projetos em torno disso e hoje em dia sou uma pessoa super realizada a nível profissional.
Não trabalho só com crianças. Tenho turmas de adultos, faço outros projetos com pessoas idosas também. Também faço casamento, por exemplo, mas tenho tentado aprofundar o meu trabalho em relação à dança criativa e às crianças.

Depois terminei e comecei a aplicar os conhecimentos todos que aprendi e outros tantos que fui aprendendo no caminho tirando outras formações e trabalhando com outros colegas da área.
Tem sido incrível perceber a transformação que a dança trás em algumas pessoas.